segunda-feira, 10 de novembro de 2025

O Rugido da Terra

O Rugido da Terra

A Terra anda falando mais alto.
Não é metáfora bonita dessas que a gente usa pra encerrar reunião.
É grito mesmo.
Daqueles que fazem o peito tremer e a alma perguntar:
“E agora, humanidade, vai continuar fingindo que não ouviu?”

A gente sempre achou que o fim do mundo viria com explosão, filme de Hollywood, naves no céu.
Nada disso.
O fim do mundo começou devagar, como quem abre a porta só um tiquinho pra espiar.

Primeiro foi o calor.
Aquele calor que não respeita feriado, que entra pela casa, se instala no sofá e parece rir da nossa garrafinha de água gelada.
Depois veio o mar, subindo centímetro por centímetro, como quem pisa miudinho para não assustar.
E de repente, cidades que cabiam em cartões-postais inteiros viraram lembranças submersas.

Nas florestas, o silêncio começou a pesar.
Onde antes havia gritos de arara, ficou só uma ausência que doía nos ouvidos.
Abelha sumindo.
Peixe desaparecendo.
O planeta fazendo contagem regressiva pela boca dos bichos.

E a Amazônia…
Ah, a Amazônia.
Aquela gigante que sempre segurou o mundo pelas mãos.
Ela andou tossindo.
Ficando seca onde sempre foi úmida.
Perdendo o verde onde só existia verde.
Os cientistas chamaram de “savanização”.
Vovó Onça chamou de luto.

Nos centros urbanos, as pessoas começaram a perceber.
Não por consciência, essa demora pra acordar, mas porque o preço do arroz subiu, a água faltou, o verão queimou, e o inverno virou uma versão preguiçosa de si mesmo.

E enquanto tudo isso acontecia, o planeta inteiro olhava para os líderes,
esperando uma palavra, um gesto, um começo.
Mas promessa não rega árvore.
E discurso não segura geleira.

Foi aí que a verdade se impôs:
o aquecimento global não é sobre clima.
É sobre gente.
Sobre futuro.
Sobre coragem.

E sobre memória também.
Porque a Terra lembra tudo: cada árvore caída, cada rio poluído, cada espécie que não volta.

Mas a Terra também lembra quem cuidou.
Lembra da menina que plantou uma muda no quintal.
Lembra do pescador que soltou o peixe pequeno.
Lembra da professora que ensinou que floresta é parente.
Lembra da escritora na varanda, com xale lilás, transformando dor em palavra.

Porque mesmo com tudo desandando, a Terra não desistiu da gente.

Ela só cansou de sussurrar.
Agora ela fala alto.
E quem não escutar, vai acabar aprendendo da pior forma: sem colheita, sem água, sem sombra, sem casa.

Mas quem escuta…
quem escuta muda o mundo.

E no meio desse caos todo, Vovó Onça chega na COP 30 com aquele olhar que atravessa gerações.
Ela sabe: não dá pra salvar o planeta sozinho.
Mas dá pra começar.
E começar é verbo forte.

Talvez o futuro seja isso:
um punhado de gente disposta a recomeçar,
mesmo quando parece tarde.
Mesmo quando o cenário é duro.
Mesmo quando o mundo inteiro espera que a gente desista.

A Terra está falando.
E, pela primeira vez em muito tempo, o mundo está começando a escutar.

🖋️ Helena Bernardes & Vovó Onça 

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